Podcast que pretende acolher desassossegadas, ecléticas e curiosas vozes do concelho da Figueira da Foz.

O Palhinhas

Era uma vez um quartel

Era uma vez um quartel de bombeiros pintado de azul.
Ficava mesmo em frente à Igreja Matriz. Lá dentro vivia um cão muito brilhante, castanho claro. Vivia entre os luzidios carros vermelhos dos bombeiros. Quem passava sabia o nome do cão de cor.
Era uma vez um quartel dos bombeiros transformado noutra coisa, e pintado de amarelo. Nas grandes janelas do edifício apareciam duas fotografias gigantes a preto e branco. Uma das fotografias era de um carro de bombeiros, que estava pintado de vermelho.
Era uma vez um homem chamado Manuel Santos.
Era uma vez um espaço chamado Parque Cine.
Tudo isto dentro do quartel.
Era um regalo entrar. E misterioso também.
Ver coisas pela primeira vez na vida.
Ser sensível a um homem que olhou à sua volta, com os olhos bem abertos, e filmou (e registou) aquilo que via.
Dá-se a abertura de vasos comunicantes, guelras, de repente o corpo respira melhor (um pouco). Era uma vez um banco de madeira em frente a um ecrã, onde nos podíamos sentar e adivinhar o homem a ver a cidade.
De repente, perceber a quantidade de beleza que se perdeu (é evidente, e negá-lo seria perigoso e desonesto). Ver a vida, o corropio, ver de olho vivo o que ouço dizer. É o poder da imagem em movimento.
O Parque Cine, do outro lado da parede, sala magnífica perdida para todo o sempre. É esse o lugar mágico onde  tantos habitam ainda (ainda se lembram, ainda guardam dentro da carteira muito antiga os bilhetes para entrar  uma sala onde podiam estar juntas 1200 pessoas!).
Fez bem a Câmara quando imaginou este quartel novo. Parece uma brincadeira de crianças, tirar uma coisa e transformá-la noutra, mas é uma ideia simples e acertada. (Porque bem feita).
Não subi lá cima (há mais andares…)

Ana Biscaia

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