Podcast que pretende acolher desassossegadas, ecléticas e curiosas vozes do concelho da Figueira da Foz.

João Vaz

Nadar com tubarões na Figueira

Eu próprio observei os tubarões no domingo à tarde, sentado na praia de Buarcos em conversa com os nadadores-salvadores. Antes do avistamento mergulhei despreocupadamente no mar quente, a 21 graus. Esta foi a razão que me levou à praia, desfrutar da sensação raríssima de entrar na água sem sentir os ossos gelados, nem ter que limitar o banho a poucos minutos. Está-se bem no mar ao largo da Figueira desde há mais de uma semana e assim vai continuar por mais uma ou duas semanas, segundo as previsões do IPMA.

O que me surpreende é que o alarme gerado pela notícia do avistamento de tubarões nas praias da Figueira não seja acompanhado de uma linha sobre a temperatura anormal da água.
Somente para dar ideia da magnitude das mudanças ocorridas, o aquecimento da água dos Oceanos (temperatura média, 17 graus) desde 1990 corresponde a 2 x 1023 joules, o equivalente a cinco bombas atómicas (Hiroshima) a explodir a cada segundo desde 1990.1 Essencialmente, a energia que nos chega do Sol é absorvida pelos Oceanos, mais de 90% do aquecimento do planeta Terra dos últimos 50 anos ocorreu aí. A água quente derrete os glaciares, e expande-se provocando a subida do nível médio do mar.

O aquecimento local do Oceano Atlântico deveria abrir telejornais e colocar os especialistas a discutir se se trata de um acidente ou de uma alteração de padrão climático. E qual o efeito nas espécies marinhas? Os tubarões avistados vieram com o calor ou é apenas uma coincidência?

As mudanças climáticas em curso na Figueira da Foz estão a ocorrer a uma velocidade superior ao previsto. Contudo, parece-me que estamos a meter a cabeça na areia (pouco se fala sobre o Leslie, 2018) e a omitir a realidade na informação que transmitimos às pessoas sobre a emergência climática. Ou então assumimos com arrojo que a Figueira será abrigo de tubarões e nem iremos estranhar que em 2029 alguém proponha como slogan “Venha nadar com os tubarões na praia da Figueira!”

1 Yale University, EUA, site – visitado a 13.set;
https://e360.yale.edu/features/how_long_can_oceans_continue_to_absorb_earths_excess_heat

da mesma voz

O maior areal da Europa

Até 2009 a Câmara Municipal decidiu, ano após ano, eliminar as espécies vegetais que cresciam no areal da Figueira da Foz. A virtude deste processo era só uma: preservar a imagem do local na linha da “praia da claridade”. Entretanto, o areal intervencionado, construíram-se algumas infraestruturas e a vegetação espontânea cresceu. Um pequeno investimento resultou na vivência de um espaço que anteriormente era triste e estéril.

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