Até 2009 a Câmara Municipal decidiu, ano após ano, eliminar as espécies vegetais que cresciam no areal da Figueira da Foz. A virtude deste processo era só uma: preservar a imagem do local na linha da “praia da claridade”. Entretanto, o areal intervencionado, construíram-se algumas infraestruturas e a vegetação espontânea cresceu. Um pequeno investimento resultou na vivência de um espaço que anteriormente era triste e estéril.
Ainda estamos longe de ter consciência da importância dos serviços de ecossistema que espontaneamente o areal renaturalizado está a gerar. Centenas de plantas diferentes, adaptadas a um solo pobre e um clima agressivo (sol, vento, salinidade,…) dão sustento a insetos, desde borboletas a joaninhas, e a toda uma cadeia trófica, rica e diversa. Para os mais distraídos, uma das ameaças que impende sobre a humanidade é o colapso dos insetos polinizadores. Logo, todas as formas de criar nichos ecológicos e fomentar a biodiversidade são importantes.
Apesar da perspetiva da redução do areal, através da remoção de areias pelo sistema de bypass (que é bem-vindo), grande parte da área irá permanecer inalterada durante os próximos 10 anos, pelo menos. E é do nosso interesse, figueirenses conscientes do seu papel na preservação da vida e das espécies, pugnar para que o areal da frente urbana da Figueira e de Buarcos seja um ecossistema florescente, albergando vida. Voltar ao passado e querer “lavrar” novamente o areal somente com o intuito de preservar “a claridade”, destruindo plantas e insetos, é absurdo.
Sabemos pouco sobre o que pensam os partidos políticos e os candidatos relativamente ao areal e à defesa do ambiente e da biodiversidade. Mas, tememos que alguns queiram, como já os seus apoiantes anunciaram, “voltar ao passado”.
Entrámos numa década muito importante, nos próximos 10 anos a humanidade decidirá se o mundo estará sujeito a drásticas alterações climáticas ou se conseguimos reduzir esse risco com medidas muitas vezes simples, mas de grande alcance.